Tenho vontade de ser transparente, de voar leve por cima dos telhados e das matas

de entrar nos apartamentos e perceber todas as diferenças que as pessoas possuem

de atravessar os corpos e tocar seus órgãos

de nascer de novo da minha mãe


Tenho vontade de vestir roupas amarelas, que não me cabem bem quando existo

de nadar com com os peixes e tubarões e de ser engolida por uma baleia

de dançar no alto de uma montanha sem medo de parecer ridícula

de bagunçar as mesas de escritório


Tenho vontade de desaparecer, de comer tudo e vomitar no prato do prefeito

de roubar no supermercado

de me aninhar nas nuvens, no barro, no Monte Fuji

de voltar em todas as casas que morei

e viver transparente, até que o vento me leve para o olho de um furacão 


Cada caco do meu peito
espeta a terra 
vira espelho
e janela
em tramas
em nós
em rasgos

a dor costura
o peso de ser 
mulher
RABIOLAS SÃO RAÍZES DO CÉU
seu rosto
é bola de espinho
envolvido
em papel de seda
branco
seu rosto
é piche
escorrendo
do céu
seu rosto
é medo
de atravessar
descalço
o mar
o lodo
o terreno baldio

Mede o osso do pescoço
Desenha um laço
Abraça a linha
Extingue o ar
Flutua



Cada corpo pendurado no anzol
Cada palavra sentada no chão
Cada muro fora de esquadro
Cada coberta engomada de vômito
Cada salto rasgando a pele
Cada cheiro de musgo e flor
Cada dente dentro do pote
Cada murro na parede
Cada sonho bonito
Cada brisa leve
Cada fim
Fim
a realidade
decalca a pele
onde nascem os pelos
e o rios
a desembocar
nas rachaduras
do chão
o ódio rasga as veias
o nojo sova o estômago
o medo empala os sonhos
o corpo de carne 
transparente
em cada gaveta
aberta
ímãs sugam
seu passado
suas raízes 
fios de seda
se encaracolam
já não se percebe mais
Pesadelo respira
molhado
sobre a marca
do perfil
quente
em mim levo o tumulto
embrulhado em papel de pão 
amarrado com arame
entre minhas costelas
e o mar
Falta
o vazio
o escuro do sonho
o corpo desencaixado
o buraco
a mão desossada
o espaço
falta
a falta da sobra 
Cada passo

esculpe o caminho


e muda a cidade


de lugar
fitas coloridas amarram
um coração
cada gomo pálido
é uma cidade 
suspensa
ausente de festas e de 
carnaval
sou espera
derretendo o tempo
completando o vão
da vida


amasse o universo
mergulhe na água
cole na parede
espere secar
descasque
dois corações viscosos
decalcam-se
amor
deus é Tempo

Aos que esperam
fadigados da vida
flutuando entre montes
de roupas sem memória
tingidos
dormentes
cindidos de corpo
e de alma

água sal rosto ferrugem
eu sou tempo
você é tempo
nos esvaímos
à medida em que nos 
transbordamos
uma chuva de mãos pediam para que ele descesse
com medo de tantas expectativas 
preferiu não existir
com um coração na orelha e um olho de boi no pescoço 
ela sorria um escuro absoluto
então, a paisagem árida penetrou o espaço e os sonhos
Meu coração
rocha sedimentada
acúmulo de tempo

O amor é algo que se encontra entre o impulso e a queda

trilhas de grampos me levam para emaranhados amanhãs

Um sorriso não prevê a desgraça
na mala
as roupas
abraçavam-se
solidárias

A língua foi 
engolida pela palavra
si lên ci o



ESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCONDEOCULTOESCOND
meu amor se vestiu de flor

pra sempre
toc toc
azulejo oco
não gosto de olhar para água
ela rouba minhas lágrimas
quebrou o concreto
e quando a fenda nasceu do chão

percebeu que tinha medo de altura
acrofobia
Embrulho-te
e nesse abraço
que contém a mim
mato-te
nascendo-me
Da fresta da porta de entrada
um mundo de pássaros nas gaiolas

A frente
da mente
sente
o verso
um soluço
um susto
uma morte
um susto
um soluço

456587845956231255258978100121401252563698574758923231
alôs
na saliva
um conto
O sangue dança
o estômago dança
os olhos dançam
os pés, raízes
Quando um vento frio me consolar, será a hora de ir embora
FALCÃO PROCURA
ANDORINHA QUE ABATE AVIÃO
Na máquina de lavar, meias, camisetas e o cordão do meu pescoço
Ele pede sentido, à direita da mesa do bar.
Ela lhe devolve um suspiro, à esquerda da mesa do bar.
Duas mãos se cruzam no centro da mesa do bar
Sagaz 
O caminhão passeava entre as ruas estreitas do bairro 
lento 
lento e musical
Deitou a cabeça no travesseiro de plumas e logo caiu em um abismo
Aurora queria dançar, 
mas suas lembranças 
deixavam suas pernas 
pesadas
Pé de Aurora
A vizinha que pegou emprestado o seu sossego, nunca mais o devolveu
2 cruzes
2 camas
4 pés
Um soum

Um silênci

Um soum

Um silênci

Um soum

Um silênci

Um dia amanhece
Contei cada ruga de seu braço. Eram 48 profundas e mais de 100 suaves, que esperavam sua vez de caminhar e deixar rastros
Quando abri os olhos, diversos pontos coloridos 
acendiam e apagavam, 
fugindo até desaparecerem por completo. 
Ví seu rosto envolto em nuvens de temporal, 
sorrindo e me dizendo boa noite.
sua boca e seus joelhos estavam próximos, seus olhos distantes...
palavras são linhas que falam--------------------------------------
Quanto mais ela gritava, mais ele abocanhava as orelhas de Bob. 
Pretinho não fazia distinção entre um grito de terror e palavras de incentivo.
Tudo dela era torto, sua perna, sua mesa, sua cadeira e seu chão
Durante a noite o coaxar se estendia ao longo da parede. No buraco as aranhas já não passeavam, eram lambidas de morte.
O molho de chaves que pesava em seu bolso o deixava cansado. Ao final do dia todas as portas do bairro do Bom Retiro eram molestadas por sua curiosidade. Jonas queria apenas ver se as casas se pareciam com a sua.
Na enxurrada, cabeças de boneca e ratos cinza escuro se enroscavam sem pudor.
Um vento morno batia em seus joelhos. Ele aninhou-se entre os trinta e cinco pés e esticou seus braços abraçando o teto. 
Estação Liberdade.
Olhou para os lados, respirou fundo e dormiu. Quando acordou já havia passado do ponto.
quando toquei a minha face quebrei-me como um vaso